O sujeito corre para a morte, se apressa a neurose em encontrar o abandono de si. De repente por um amor, uma dor, uma “or” (M”or”te), se desabitua da rotina, dos gostos, dos quereres, dos hobbies, dos silêncios. Vive-se o outro, quer o encontro máximo, a fusão de uma salvação. Um minuto de silêncio por Ludwika Wawrzynska, que foi buscar quatro crianças em meio ao fogo, “Vou buscá-las logo”. De repente foi, deixou-se para trás. Voltou com as crianças e o fogo, um cheque emergencial de uma vida às outras que precisam ser salvas. Sem calção, sem materialidade, ficando apenas a aposta da potência do corpo. O cheque compensa após o desastre. “Eu queria comprar uma passagem, visitar uma amiga, escrever uma carta, escancarar a janela depois da tormenta, caminhar pela floresta, se encantar com as formigas, observar como o lago se encrespa quando venta”. Um minuto de silêncio, não deu tempo. Não há mais testemunhas, a vida se encerrou.
O momento do abandono de si no incêndio, das urgências, das relações. Como pode abandonar, o outro ou/e a si? O que contorna a não salvação, a escolha de permanecer “eu”, deixar queimar, em chamas, solidão, nos próprios problemas e neuroses os outros/O Outro? O que fazer com dois? “Só nos conhecemos na medida em que somos colocados à prova.” Alguém sobrevive, ainda testemunha ocular, “do voo das nuvens e dos pássaros, ouço como crescem as folhas e conheço os nomes delas, decifrei milhões de caracteres impressos”. Quem? “Um minuto de silêncio pelos mortos às vezes dura até tarde da noite”.
Texto entrelaçado ao poema “Um minuto de silêncio por Ludwika Wawrzynska” de Wislawa Szymborska
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